Reciprocidade na ‘Floresta de destinos’.

Um exemplo de trabalho que na RuralisAR identificamos como a cuida de uma ‘Micro Reserva‘.

À volta da aldeia de Vila de Barba perto de Santa Comba Dão existe um grande número de pequenos terrenos (minifúndios) onde Armando Carvalho está a dar uma mão às florestas autóctones. Apoiar a sucessão natural é como ele a descreve. Fazendo o mínimo e apenas o trabalho necessário para permitir que as árvores, arbustos e outras plantas nativas estabeleçam um ecossistema saudável. Armando esta a cuidar a ‘Floresta de destinos’, e assumiu um compromisso ambiental na sua editora de guias de viaje Foge Comigo! compensando as emissões de CO₂ geradas pelos trabalhos de produção e edição de cada guia.

Fomos visitar o Armando para entender como um colega no trabalho de cuidar de Micro Reservas aborda o trabalho, aprender com as suas técnicas e entender o que o move.

Assim como as árvores de que cuida, as raízes de Armando estão nestas terras, a sua família é daqui e as terras agora são dele. Há pouco mais de 30 anos, quando estudava engenharia florestal, Armando começou a cuidar dos lotes florestais da sua família. Ao longo dos anos cresceu o seu interesse e paixão por esta pequena restauração e com ela o número de pequenas parcelas de que cuida. São em total 11 hectares dividido em pequenas peças que por média tem cerca de 1000m2. Durante a nossa visita, explorámos um grupo de lotes localizados lado sudoeste da aldeia e que são visíveis das janelas da sua casa. Os mais próximos da aldeia são campos de pomares abertos, criando um corta-fogo perto da aldeia e por trás disso estão os lotes onde as suas intervenções visam trazer de volta as florestas autóctones.

É um trabalho de amor feito nos fins de semana com podadores, serra e às vezes com o trator. É também um laboratório vivo onde, há mais de 30 anos, Armando trabalha e vê os resultados das suas intervenções. Um dos resultados mais importantes é a água nas quatro nascentes naturais na base de uma das colinas onde ele faz as suas intervenções. Florestas saudáveis significam um ciclo hídrico saudável e como diz o ditado: a água também se planta.

No nosso passeio aprendemos sobre os vários desafios da restauração como a pequena dimensão dos lotes e a sua inerente suscetibilidade ao que acontece nos terrenos vizinhos, a germinação de milhões de eucaliptos após os incêndios de 2017, a identificação dos limites dos lotes, as espécies invasoras e o corte das equipas de manutenção da EDP, que derrubam árvores perto de linhas de energia. O trabalho de Armando consiste principalmente em remover o que não deveria estar ali, podar para sustentar o crescimento ascendente das árvores e cobertura morta para construir solos e reter água. Ele tem conseguido cobrir os custos deste trabalho através de trocas inteligentes de terrenos e da venda de madeira que consegue colher dos seus lotes.

No final do passeio passámos por um antigo carvalhal com um grande castanheiro no meio e um charco natural por baixo. Ao pararmos ao lado do castanheiro e falarmos sobre o seu poder, fica muito claro o quanto as árvores e a floresta também sustentam Armando e como essa é uma relação recíproca. Num campo junto ao carvalhal encontram-se três freixos com 15 metros de altura, plantados por ele quando iniciou os seus estudos florestais há 35 anos. O trabalho de restauração florestal requer visão e comprometimento de longo prazo. Ver um exemplo tão bonito disso é inspirador.

Após a nossa visita ao Armando, considerámos o que está por trás do impulso e dos resultados do seu trabalho e identificámos estes elementos:

– Conhecimento dos ecossistemas florestais, incluindo a escala de tempo de maturação da floresta.

– Um amor e paixão por árvores e florestas.

– Personalidade de natureza persistente.

– A proximidade da aldeia e visibilidade de alguns lotes a partir da sua casa.

– Utilização dos recursos florestais para cobrir grande parte dos custos da obra.

– Trabalhar com um madeireiro que seja cuidadoso e habilidoso para minimizar os danos causados pelo derrube de árvores nas árvores remanescentes.

– O sucesso e os resultados visíveis de uma das primeiras intervenções. Um exemplo é a plantação de freixos.

– Os vários locais favoritos pessoais onde ele experimenta as qualidades edificantes e regeneradoras de estar na floresta.

– Conectando os seus esforços de restauração ao negócio editorial como ‘Floresta de Destinos’ e construindo um perfil de empreendedor social.

– Estar ligado a organizações e iniciativas que celebram e apoiam os esforços de restauração de proprietários privados de terras, como as European Networks of Private Land Conservation..

Armando é um especialista em restauração de pequena escala, agora esperamos trabalhar com ele no apoio a pequenos proprietários de terra para fazer o trabalho de Micro Reserva. Pode ler mais sobre Armando nesta entrevista no INature e no site da European Networks of Private Land Conservation ou ir e conhecer o seu trabalho nesta visita a Floresta de Destinos dia 25 de fevereiro organizada pela Montis ACN.

Deixe uma resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

PT